Tensão crescente após a Venezuela ordenar que o Brasil deixe a custódia da embaixada argentina
A situação representa mais um episódio na escalada de tensões entre os governos do Brasil e da Venezuela, assim como entre Argentina e Venezuela. Dentro da embaixada argentina, estão pelo menos seis opositores a Maduro e assessores de María Corina Machado, a principal líder da oposição venezuelana. Na sexta-feira (6/9), Pedro Urruchurtu, membro da equipe de María Corina Machado que está asilado na embaixada, publicou vídeos nas redes sociais e relatou que agentes do governo Maduro, “juntamente com oficiais encapuzados e armados, cercam e sitiaram a Residência Argentina em Caracas, sob custódia e proteção do governo brasileiro”. Neste sábado (7/9), outra das pessoas refugiadas no prédio, Magalli Meda, ex-chefe de campanha de Machado, informou que o fornecimento de eletricidade foi interrompido e que os acessos ao prédio estão restritos.
Funcionários da diplomacia brasileira costumam passar pelo prédio da Argentina, mas não há informações sobre se estariam no local em meio à escalada de tensões, de acordo com fontes do Itamaraty. Os funcionários venezuelanos contratados pela própria Argentina cuidam das necessidades básicas do prédio. “Eu acho que o comportamento de Maduro é um comportamento que deixa a desejar”, disse Lula em entrevista à rádio Difusora Goiânia. “Estamos em uma posição, Brasil e Colômbia, a gente não aceitou o resultado das eleições, mas não vou romper relações e também não concordo com a punição unilateral, o bloqueio.
Porque o bloqueio não prejudica o Maduro, o bloqueio prejudica o povo e eu acho que o povo não deve ser vítima disso”, completou o presidente. Antes mesmo do dia da eleição venezuelana, Lula começou a se posicionar publicamente contra Maduro. O presidente brasileiro disse ter ficado chocado com as declarações de seu antigo aliado, Maduro, sobre um suposto banho de sangue no país caso não vencesse a disputa. A resposta veio logo depois.
O Brasil pediu, juntamente com Colômbia, México e outros países, que as autoridades venezuelanas apresentassem as atas de votação para garantir a integridade do pleito. Até agora, no entanto, nada foi apresentado. Lula também sugeriu mais tarde que o governo venezuelano realizasse novas eleições ou então formasse um “governo de coalizão”. Maduro rejeitou a recomendação e criticou os países que não reconheceram sua vitória.
Ele comparou sua vitória com a de Lula em 2022, quando a Justiça eleitoral brasileira reconheceu a eleição do petista. “E quem se meteu com o Brasil? Ninguém! “, afirmou.
Em outro sinal de distanciamento, o Brasil reagiu à ordem da Justiça venezuelana de prender Edmundo González Urrutia, candidato da oposição à presidência do país. O Brasil e a Colômbia manifestaram “profunda preocupação” com a ordem de apreensão. Durante a Guerra das Malvinas em 1982, o Brasil assumiu a embaixada argentina no Reino Unido. A expulsão de Caracas foi uma retaliação às críticas do presidente argentino ao processo eleitoral venezuelano.
Após o Brasil assumir o prédio, inclusive com o simbólico hasteamento da bandeira brasileira, Milei agradeceu publicamente ao Brasil. “Aprecio muito a disposição do Brasil de cuidar da custódia da embaixada da Argentina na Venezuela. Também apreciamos a representação momentânea dos interesses da República Argentina e de seus cidadãos lá”, escreveu Milei. “Os laços de amizade que unem a Argentina com o Brasil são muito fortes e históricos”, prosseguiu o argentino.